Texto do espetáculo da Baileia: Será Sereia?
Sei muitas coisas. Sei.
Mas sei, porque sinto.
Sinto tanto que sei.
Nascer, morrer nascer.
Se morre, nasce e se nasce, vive.
Se vive, sente e se sente sabe.
Sinto tanto que sei.
Já nasci e morri algumas vezes. Não me lembro quando foi a primeira vez que nasci. Mas,
já vi o mundo ganhar muitas formas de existir. Já o vi nascer e morrer muitas vezes.
Antes, cada um de vocês eram bichos enormes, tão grandes do tamanho das árvores.
(Ah pois, as árvores eram e continuam sendo árvores que nascem e morrem. E se morrem,
nascem outra vez. Se nascem, vivem. Se vivem, sentem e se sentem, sabem…. E as
árvores sabem tanto).
Como dizia, em uma das vezes, vocês eram todos bichos enormes, mais conhecidos como dinossauros.
Nasciam em ovos gigantes. Uns voavam, outros nadavam, outros corriam e as vezes, até
se comiam uns aos outros. Um dia, o céu começou a aproximar-se das cabeças, parecia
que ia cair. Enquanto isso, o chão borbulhava como se estivesse a ferver. O céu caia, o
chão fervia, o céu caia, o chão fervia. E de tanto ferver… Pow.
Acabou. Morreu.
Mas, se morre nasce e se nasce, vive.
Se vive, sente e se sente sabe.
E como eu sei? Eu estava lá. Sei porque senti e vi, com esses olhos que vos vêm agora. E
todos todos todos os seres desapareceram. Um a um.
Nascer e morrer, nascer e morrer.
E se morre, nasce e se nasce, vive e se vive, sente e se sente, sabe.
Sabe respirar e continuar.
Uma vez, o senhor Ailton, contou-nos que a Terra, a mãe Terra, nos dá de graça o oxigênio pra respirar. Escurece o dia, para que possamos dormir e nasce o sol pra que possamos acordar. Ela sabe muita coisa. Se calhar, sabe porque sente e sente cada um dos seres deste planeta.
Depois da explosão toda e do desaparecimento total (lembro-me bem de tudo), chorei baba
e ranho. Sabem o que é chorar baba e ranho?
Sabem porque sentem,
Sentem tanto que sabem
Fiquei sozinha nessa bola terrestre.
Não havia ninguém.
Não havia nada.
Sumiu
Uma tristeza
Um silêncio...
Mas o curioso é que o dia continuava a nascer e morrer. Clarear e escurecer. Sol e lua.
Era como se a Terra, a mãe, tivesse dito: “Silêncio. Outra chance pra todo o mundo”.
E então… Oh. O que? Será? Não é possível? Mesmo? O que será? Onde? Alí?
Então das águas, coisas micro brotavam. Do micro foi crescendo. Macro. E foi se
transformando. Deformando. Ganhando novas formas. Foi indo, indo e indo. Era lindo de
se ver, de se sentir. Mais e mais seres. Todos juntos. Éramos todos guardiãos da bola
terrestre. Eu, tu, o rio, as plantas, os macacos, os insetos, as algas, as águas. Todo o mundo era um só.
E todo o mundo era diferente, sendo um.
Sei muitas coisas. Sei.
Mas sei, porque sinto.
Sinto tanto que sei.
Nascer, morrer nascer.
Se morre, nasce e se nasce, vive.
Se vive, sente e se sente sabe.
Sinto tanto que sei.
Eu sei e tu sabes....
Sabes?
Será?
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