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Será Sereia?

Texto do espetáculo da Baileia: Será Sereia?


Será Sereia | Festival do Bairro ©Laura Rego

Sei muitas coisas. Sei.

Mas sei, porque sinto.

Sinto tanto que sei.

Nascer, morrer nascer.


Se morre, nasce e se nasce, vive.

Se vive, sente e se sente sabe.

Sinto tanto que sei.


Já nasci e morri algumas vezes. Não me lembro quando foi a primeira vez que nasci. Mas,

já vi o mundo ganhar muitas formas de existir. Já o vi nascer e morrer muitas vezes.

Antes, cada um de vocês eram bichos enormes, tão grandes do tamanho das árvores.


(Ah pois, as árvores eram e continuam sendo árvores que nascem e morrem. E se morrem,

nascem outra vez. Se nascem, vivem. Se vivem, sentem e se sentem, sabem…. E as

árvores sabem tanto).


Como dizia, em uma das vezes, vocês eram todos bichos enormes, mais conhecidos como dinossauros.

Nasciam em ovos gigantes. Uns voavam, outros nadavam, outros corriam e as vezes, até

se comiam uns aos outros. Um dia, o céu começou a aproximar-se das cabeças, parecia

que ia cair. Enquanto isso, o chão borbulhava como se estivesse a ferver. O céu caia, o

chão fervia, o céu caia, o chão fervia. E de tanto ferver… Pow.

Acabou. Morreu.


Mas, se morre nasce e se nasce, vive.

Se vive, sente e se sente sabe.


E como eu sei? Eu estava lá. Sei porque senti e vi, com esses olhos que vos vêm agora. E

todos todos todos os seres desapareceram. Um a um.


Nascer e morrer, nascer e morrer.

E se morre, nasce e se nasce, vive e se vive, sente e se sente, sabe.

Sabe respirar e continuar.


Uma vez, o senhor Ailton, contou-nos que a Terra, a mãe Terra, nos dá de graça o oxigênio pra respirar. Escurece o dia, para que possamos dormir e nasce o sol pra que possamos acordar. Ela sabe muita coisa. Se calhar, sabe porque sente e sente cada um dos seres deste planeta.


Depois da explosão toda e do desaparecimento total (lembro-me bem de tudo), chorei baba

e ranho. Sabem o que é chorar baba e ranho?

Sabem porque sentem,

Sentem tanto que sabem


Fiquei sozinha nessa bola terrestre.

Não havia ninguém.

Não havia nada.

Sumiu

Uma tristeza

Um silêncio...


Mas o curioso é que o dia continuava a nascer e morrer. Clarear e escurecer. Sol e lua.

Era como se a Terra, a mãe, tivesse dito: “Silêncio. Outra chance pra todo o mundo”.

E então… Oh. O que? Será? Não é possível? Mesmo? O que será? Onde? Alí?


Então das águas, coisas micro brotavam. Do micro foi crescendo. Macro. E foi se

transformando. Deformando. Ganhando novas formas. Foi indo, indo e indo. Era lindo de

se ver, de se sentir. Mais e mais seres. Todos juntos. Éramos todos guardiãos da bola

terrestre. Eu, tu, o rio, as plantas, os macacos, os insetos, as algas, as águas. Todo o mundo era um só.

E todo o mundo era diferente, sendo um.


Sei muitas coisas. Sei.

Mas sei, porque sinto.

Sinto tanto que sei.

Nascer, morrer nascer.

Se morre, nasce e se nasce, vive.

Se vive, sente e se sente sabe.

Sinto tanto que sei.

Eu sei e tu sabes....

Sabes?

Será?



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